Reunião Científica, 20 de abril de 2018

O Prof. Dr. Carlos T. Chone, da Disciplina de Otorrinolaringologia Cabeça e Pescoço da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, ministrou hoje a aula Atualização em Angiofibroma Juvenil Nasofaríngeo.
O angiofibroma nasofaríngeo é um tumor benigno bastante peculiar que acomete crianças e adolescentes apenas do sexo masculino, extremamente vascularizado e ao mesmo tempo muito fibroso, duro e aderido à base óssea do crânio. Raro, representa entre 0,05 a 0,5% de todos os tumores da cabeça e pescoço. Desenvolve-se na região posterior a maxila e medialmente a mandíbula, o que contribui para uma descoberta tardia após um crescimento insidioso e dificulta o acesso para sua remoção cirúrgica. Nesta localização ele guarda relações de proximidade com estruturas importantes como a artéria carótida interna, principalmente em suas porções faríngea e petrosa assim como com o plexo venoso pterigoideo. Sua intensa vascularização acontece através das artérias carótidas interna e externa.
Entre os diversos estadiamentos propostos para classificar estes tumores o mais utilizado é o de Fisch. Esta variabilidade de classificação dificulta a comparação entre os estudos realizados.
Recentes estudos genéticos identificaram em pacientes com angiofibromas que o fator de proliferação endotelial se encontra aumentado comparado aos indivíduos sem o tumor. Um outro marcador, o fator de proliferação de fibroblastos, só está presente nos portadores deste tipo tumoral. Buscam-se nas pesquisas desenvolver drogas que possam bloquear a ação destes genes.
Quanto maior o tumor, maior a chance de ser irrigado pela carótida interna. Em torno de 90% dos grandes tumores com invasão da fossa infratemporal e da fossa média serão vascularizados por ela. Cerca de 30% dos tumores recebem vascularização tanto da carótida externa quanto interna.
As comunicações existentes entre o sistema carotídeo interno e externo tornam o resultado da embolização pré-operatória destes tumores incerto e assim, por não ser consensual, muitas equipes operam sem sua realização. Deve-se considerar que nas embolizações de tumores na cavidade nasal temos 2% de complicações graves, entre elas acidentes vasculares isquêmicos graves e amaurose. Alguns trabalhos mostram não existir diferença no sangramento total final com ou sem embolização. Da mesma maneira, identificaram maior índice de recorrência em casos operados com embolização, talvez em função de maior dificuldade para identificar fragmentos do tumor que permanecem aderidos após a remoção da massa principal.
Alternativa à embolização a ser considerada, a ligadura transcervical prévia da artéria maxilar interna pode ser utilizada.
Nas últimas duas décadas observamos um número crescente de serviços em todo o mundo utilizando a cirurgia endoscópica na remoção dos angiofibromas nasofaríngeos e relatos de diminuição do sangramento com a utilização desta técnica. Com a progressiva melhora na instrumentação e na qualidade de imagem obtida nas cirurgias, espera-se que a maior parte destes tumores possa ser removida pela via endoscópica ou em cirurgias vídeo assistidas.