Reunião Científica, 27 de outubro de 2017
Circunstâncias especiais interferindo no processo de decisão do momento ideal para a cirurgia de implantes cocleares em crianças foi o tema da exposição do Prof. Dr. Arthur Castilho em nossa reunião clínica. A literatura médica atual mostra que crianças nascidas com surdez profunda bilateral apresentam melhor desenvolvimento de habilidades e de linguagem receptiva e expressiva se implantadas precocemente, bilateralmente, após 6 meses e antes de 1 ano de idade. Recentes comunicações sobre segurança de drogas do FDA americano, entretanto, alertam quanto aos efeitos negativos no desenvolvimento cerebral secundários ao uso de diversos agentes anestésicos por período acima de 3 horas ou procedimentos repetidos em crianças abaixo de 3 anos de idade. Após longo follow up de até 18 anos, diversos trabalhos apontam como consequência da utilização de tais medicamentos um claro prejuízo das funções cognitivas destas crianças. Estas constatações colocam em cheque a conduta atualmente preconizada para crianças com surdez congênita, uma vez que para um número não negligenciável de locais e profissionais a duração média das cirurgias para implantação bilateral ultrapassa 4, 5 ou mais horas. Desta maneira, além das dificuldades inerentes à própria aceitação da surdez, da realização de exames complexos exigindo anestesia geral para um diagnóstico definitivo em bebês e do impacto que uma indicação cirúrgica em seus filhos traz, os pais devem ser alertados deste novo risco potencial. A curto prazo parece não existir alternativa do ponto de vista anestésico, já que aparentemente não há perspectiva de novas drogas a serem colocadas à disposição do mercado. Além destes novos desafios a serem superados, o Dr. Arthur lembrou os detalhes anatômicos que dificultam a intervenção em crianças, entre eles a posição lateralizada no nervo Facial, o sangramento aumentado da medular da mastóide infantil e a particularidade da fixação da unidade externa sem confecção do nicho craniano.