Reunião Científica, 10 de novembro de 2017
Assistimos nesta data uma excelente aula proferida pela Prof. Drª Rebecca Maunsell, coordenadora do Serviço de Otorrinolaringologia Pediátrica da Disciplina de Otorrinolaringologia Cabeça e Pescoço da UNICAMP, na qual foi discutida a avaliação da via área em crianças disfágicas.
Aspiração é uma condição grave e tem alta morbidade no paciente pediátrico. Alterações anatômicas da via aérea e estruturas relacionadas a deglutição podem interromper o desenvolvimento normal desta em fases críticas. Mais de 50 % destas crianças com distúrbio de deglutição têm etiologia múltipla associando problemas comportamentais a anormalidades orgânicas anatômicas ou funcionais, seja neurossensorial, neuromotora ou do processamento central. Por esta razão, a atuação do otorrinolaringologista neste complexo cenário, embora fundamental, deve acontecer em um contexto multidisciplinar.
A criança que demora muito na hora de comer, com atraso no desenvolvimento esperado da deglutição, baixo ganho ponderal, babação fora do normal, regurgitação excessiva, seletividade de alimentos inexplicável, engasgos, refluxo nasal prolongado e sintomas respiratórios crônicos ou recorrentes, deve ser investigada. Na presença destes sinais de suspeição interrogaremos cuidadosamente as mães em relação a alimentação do paciente, quanto tempo demora, o que ele prefere comer e insistir para uma descrição exata de qual é a queixa da criança. Nestas situações evocaremos possíveis etiologias, tanto as comuns quanto as mais raras e buscaremos um diagnóstico preciso.
Para isto destaca-se a importância da fibronasolaringoscopia, indispensável nestes casos. As particularidades da realização deste exame na criança devem ser conhecidas por todos os otorrinolaringologistas, na medida em que ele nos fornece informações cruciais sobre as variações anatômicas, asmalformações, a voz, o padrão respiratório sob esforço e a estase de secreções. Em determinadas condições requisitaremos o videodeglutograma. Quando a suspeita de aspiração não foi explicada pela nasofibroscopia ou foi detectada na videofluoroscopia, quando os sintomas respiratórios são persistentes ou se temos a presença de eventos de risco como cianose ou laringites atípicas, necessitaremos realizar o exame das vias aéreas sob anestesia geral.
Destaca-se também a função essencial da fonoaudiologia no exame das habilidades miofuncionais durante a alimentação.
Várias das condições envolvidas nas crianças disfágicas são congênitas (laringomalácia, cistos, fendas laríngeas e fístulas laringotraqueoesofágicas, etc) e não é admissível que o diagnóstico seja postergado, as vezes por anos, na medida em que elas não são encaminhadas para o exame e investigações adequados.